Transcrição da palestra do prof. Silvio Meira na Aula Magna do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada - 22/04/2010
(Mudei Pernanbuco para Pernambuco no final do trecho 14 e 15. E adicionei o trecho 20 e 21) |
(→Minutos 22 e 23) |
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== Minutos 22 e 23 == | == Minutos 22 e 23 == | ||
+ | ... pra um possivel futuro, aquele futuro vira presente, é essa construcao permanente do futuro vir do futuro, é o que mantem as instituições vivas, é o que mantem as pessoas vivas. De mais de uma forma, eu podia me sentar em cima do meu curriculo, sento aqui, eu tenho duzentos e tantos "papers" publicados, vi que esta desatualizado, eu ja aumentei em mais de cem teses de mestrado e doutorado, publiquei mais de duzentos e vinte "papers", eu sento aqui e bom, eu não preciso fazer mais nada; mas aí eu viro aquele velinho chato que chega aqui e acha que inventou a rotacao do planeta Terra, chego pra vocês aqui e: "olha quando eu nasci, esse negócio não girava não, fui eu que botei uma forcinha e começou a girar, e quem ta me atrapalhando é esse terremoto do Chile, esse vulcão da Islandia", como eu vejo um bocado de velinhos malucos que me deram aula na época em que eu era aluno da graduação, que acham que inventaram o mundo, que acham que a *palavra que nao entendi* que eles fizeram foi a mais importante; e vocês tão começando um mestrado profissional, não só a instituição está começando um mestrado profissional, mas muitos de vocês que estão aqui, levantem a mão quem está começando um mestrado aí, muitos que estão aqui estao começando um mestrado mesmo vocês, e vocês tão começando a história, o tempo todo, todo dia, agente ta começando a história; a história que passou, que é o tal do passado né, e ela é relevante, ela é muito relevante, e ela diz basicamente o seguinte a uma instituicao como o UTFPR, como o CESAR, como a Federal de Pernambuco, onde sou professor no departamento de, hmm, centro de informática, departamento de informação e sistemas; a história diz basicamente que agente tem credito pra errar, mais nada, mais nada, e só o que a história diz; não diz que agente vai acertar, não diz que agente tem direitos diferentes das outras pessoas, não diz que agente tem um lugar ao sol... | ||
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== Minutos 24 e 25 == | == Minutos 24 e 25 == | ||
== Minutos 26 e 27 == | == Minutos 26 e 27 == |
Edição de 22h58min de 22 de maio de 2010
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Áudio da Palestra
Os trechos do áudio da palestra podem ser encontrados (temporariamente, enquanto durar o processo de transcrição) em:
O nome de cada arquivo está no seguinte formato:
- srlm_audio_XXm_00s__YYm_zzs.mp3
onde:
- XX é o número do minuto inicial do trecho
- YY é o número do minuto inicial do próximo trecho
Transcrição (turma do BSI)
Minutos 14 e 15
Mestre de Cerimônia: "A palestra que será proferida nesta aula inaugural do Mestrado Profissional em Computação Aplicada terá como título "O Mestrado profissional no contexto do desenvolvimento tecnológico e inovação" e será proferida pelo professor doutor Silvio Meira.
O professor doutor Silvio Meira é professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, presidente do Conselho de Administração do Porto Digital, cronista do Terra Magazine, comentarista da rádio CBN e consultor de políticas estratégicas de informação, informática e inovação. Autor de mais de 200 artigos em congressos e revistas acadêmicas, e de centenas de textos sobre tecnologia de informação e seu impacto na sociedade publicados na imprensa leiga e de tecnologias da informação.
O professor Meira já supervisionou mais de 90 teses e dissertações de mestrado e doutorado. O professor Meira detém as Ordens Nacionais do Mérito Científico e Rio Branco e a Medalha do Conhecimento do MDIC. Em 2006 recebeu do Governo de Pernambuco a mais alta comenda do estado: a Ordem do Mérito dos Guararapes."
Minutos 16 e 17
Minutos 18 e 19
Minutos 20 e 21
A gente tem que criar coisas pra resolver problemas, pra ter direito ao espaço/tempo das pessoas. E como empresas, ou como profissionais de tecnologia, que somos quase todos nós aqui, termos algum crédito para fazer algo.
De mais de uma forma, quando a gente olha a pra história, a gente, às vezes pensa que a história nos garante o futuro. Eu aprendi, na minha vida inteira, a entender que não; o futuro vem do futuro, o futuro vem dos planos que a gente faz. Toda vez que a gente olha, a partir do presente, para trás, para o passado, a gente consegue escrever o que se chama história teleológica: uma história linear de tudo o que aconteceu pra gente vir até aqui, pra gente chegar onde a gente está. Então cada um de vocês, a UTFPR, qualquer instituição, seja ela qual for, qualquer pessoa, qualquer família, consegue contar uma história linear do passado. Como é que eu estou nesse batente da escadaria da vida, dos negócios, das empresas, nas instituições, na própria sociedade, nesse momento. Mas, na verdade, nunca foi isso o que aconteceu *verificar*. A cada batente que nós estamos no presente, se desenham múltiplas escadas abstratas, virtuais, que vem do futuro, apontando pra gente no presente. Algumas são conversas de mesa de bar: “Por que que (sic) a gente não faz isso?”; outras são planos mesmo: desenha-se um futuro possível, coordena-se uma quantidade de esforços, seja de pessoas, de capitais (sic), de instituições, de contextos, de apoios, e a gente saltar*verificar*, quando um número suficientemente grande de forças que se articulem e salta de um batente para
Minutos 22 e 23
... pra um possivel futuro, aquele futuro vira presente, é essa construcao permanente do futuro vir do futuro, é o que mantem as instituições vivas, é o que mantem as pessoas vivas. De mais de uma forma, eu podia me sentar em cima do meu curriculo, sento aqui, eu tenho duzentos e tantos "papers" publicados, vi que esta desatualizado, eu ja aumentei em mais de cem teses de mestrado e doutorado, publiquei mais de duzentos e vinte "papers", eu sento aqui e bom, eu não preciso fazer mais nada; mas aí eu viro aquele velinho chato que chega aqui e acha que inventou a rotacao do planeta Terra, chego pra vocês aqui e: "olha quando eu nasci, esse negócio não girava não, fui eu que botei uma forcinha e começou a girar, e quem ta me atrapalhando é esse terremoto do Chile, esse vulcão da Islandia", como eu vejo um bocado de velinhos malucos que me deram aula na época em que eu era aluno da graduação, que acham que inventaram o mundo, que acham que a *palavra que nao entendi* que eles fizeram foi a mais importante; e vocês tão começando um mestrado profissional, não só a instituição está começando um mestrado profissional, mas muitos de vocês que estão aqui, levantem a mão quem está começando um mestrado aí, muitos que estão aqui estao começando um mestrado mesmo vocês, e vocês tão começando a história, o tempo todo, todo dia, agente ta começando a história; a história que passou, que é o tal do passado né, e ela é relevante, ela é muito relevante, e ela diz basicamente o seguinte a uma instituicao como o UTFPR, como o CESAR, como a Federal de Pernambuco, onde sou professor no departamento de, hmm, centro de informática, departamento de informação e sistemas; a história diz basicamente que agente tem credito pra errar, mais nada, mais nada, e só o que a história diz; não diz que agente vai acertar, não diz que agente tem direitos diferentes das outras pessoas, não diz que agente tem um lugar ao sol...
Minutos 24 e 25
Minutos 26 e 27
Minutos 28 e 29
A cultura da ciência, que busca a verdade. Eu quero descobrir porque que as coisas funcionam, porque que elas são como elas são, porque que não serviu de outro jeito. Ai vai a teoria das cordas pra explicar o universo e tudo mais. Existem as artes e as humanidades, que são guiadas pela estética, então, a noção de mundo que eu persigo, que eu tento descobrir, rever e escrever é do belo, então, a arte guiada pelo belo é indiscutível sempre, porque o belo é belo nos olhos de cada um. Existem as técnicas, ou a tecnologia, que em uma posição a todas as outras é o domínio da possibilidade. Ciência busca a verdade; artes e humanidades, guiadas pela estética, buscam o belo e tecnologia busca a possibilidade. Literalmente! Se da pra fazer, faremos! Esse é o nome do nosso jogo na universidade técnica. E por que esse é o nome do nosso jogo numa universidade técnica, ou tecnológica, ou dos centros de tecnologia, ou do meu centro de informática, ou do C.E.S.A.R? Vamos pegar um exemplo básico: a dor de cabeça. Todo mundo aqui já teve dor de cabeça pelo menos uma vez, quem nunca teve? Hmm... então eu sou um conjunto de um, eu nunca tive dor de cabeça, não sei nem o que que é, mas todos vocês tiveram, vocês sabem o que é dor de cabeça. O que a gente usa para curar dor de cabeça? A gente usa ácido acetilsalicílico, certo? E invenções mais modernas: Tylenol, Paracetanol e outras coisas. Mas originalmente é ácido acetilsalicílico. Como é que funciona a tecnologia disso? Em Hipócrates ta lá: faça infusão da casca de salgueiro, deixe esfriar um pouquinho, e tome, que você vai baixar a febre e vai curar a dor de cabeça.
Minutos 30 e 31
Minutos 32 e 33
Minutos 34 e 35
Um carro topo de linha, hoje, nesse domínio das possibilidades, segundo um paper publicado por Manfred Broy, que é um dos principais pesquisadores de especificações formais e corretude de software do mundo, diz que um carro topo de linha, como um BMW 750 ou uma Mercedes Benz Classe S possuem, dependendo da versão do carro, de 10 a 100 milhões de linhas de código rodando no carro, e há de 50 a 150 computadores em rede dentro do carro enquanto se está dirigindo ele. A gente deveria ou não ficar assustado com isso e pedir para dirigir para dirigir um Ford 1929, que não possui nenhum computador e que se dá partida à manivela? Não. Tecnologia é o domínio da possibilidade e da responsabilidade, porque possibilidade implica em risco, possibilidade vem de poder, quando possuímos poder, assumimos riscos. Uma parte do que vocês vão aprender o tempo todo numa pós-graduação ligada à informática: software e sistemas de informação, hardware, software, gente (gente faz parte dos sistemas) envolve riscos. E como assumimos os riscos, como salvamos a guarda do interesse da sociedade, como agimos eticamente para resolver problemas, e tem as mais variadas facetas da ética que você quiser, e os mais correspondentes e variados níveis de responsabilidade, eu posso sentar…
Minutos 36 e 37
Minutos 38 e 39
Minutos 40 e 41
Minutos 42 e 43
Minutos 44 e 45
Minutos 46 e 47
Minutos 48 e 49
Tecnologias para ou como parte do, ou dos, processos de inovação. Peter Drucker costumava dizer que inovação é a mudança do comportamento de agentes como consumidores ou fornecedores de qualquer coisa no mercado, a mudança do comportamento dos agentes no mercado como consumidores ou fornecedores, essa definição não basta para tecnologia, não tem nenhum país que minimamente refletiu sobre qual é o valor da tecnologia nos negócios e qual é o papel da inovação nos negócios que tenha mantido a idéia de que existe alguma coisa chamada inovação tecnológica, nem de longe eu to querendo dizer que tecnologia é irrelevante para inovação, não, a tecnologia é absolutamente essencial, principalmente no nosso caso, nessa sala, em mundo todo feito de informática e todo de software se vocês quiserem fazer o teste eu desafio qualquer um aqui.
Minutos 50 e 51
e que sejam meus votos que vocês abram rápido um doutorado profissional, nós estamos dispostos no C.E.S.A.R a abrir um doutorado profissional também, não há nenhum doutorado profissional no Brasil que eu saiba no momento, então primeiro nós temos que fazer uma associação aqui para vencer as barreiras da CAPES, isso é só um desafio a mais, e é isso que torna a coisa ainda mais interessante.
Fazer tecnologia por tecnologia vai dar boas teses e dissertações, mas não vai resolver nenhum problema, e hoje eu tenho certeza absoluta disso porque nós não estaremos fazendo as perguntas que são realmente relevantes sobre qual é o nosso papel na sociedade. E eu não estou falando do papel ingênuo na sociedade daqueles que muitos de nós, inclusive eu, declamaram nos nossos discursos de formatura. A gente se forma em informática e tem aquele discurso de formatura, que de preferência a gente sorteia algum inimigo para fazer e o cara vai lá e diz "prometo não dominar, não me deixar dominar pela máquina e não sei que". Já faz anos que eu corrijo de uma forma radical as notas, as provas dos meus alunos para dar nota ruim de tal maneira que eles nem me convidem para a formatura que é pra eu nao ter que ouvir essa babaquice de novo certo ? "Eu nao vou me deixar dominar pela técnica porque a alma não sei o que lá", isso é de uma babaquice inominável, primeiro por que como eu já disse antes, a humanidade é necessariamente técnica, os macacos todos se pudessem tavam usando técnica ad infinitum, os passarinhos usam técnica, os ratos os coelhos todo mundo, então nós não temos que sentar aqui e ficar dizendo, "não, porque tem a técnica aí que ta tentando dominar o mundo", nada disso, nós somos a técnica, nós estamos inventando e reinventando a técnica o tempo todo
Minutos 52 e 53
Minutos 54 e 55
Minutos 56 e 57
Minutos 58 e 59
o aumento do uso da técnica em dispersão, em profundidade, em qualidade, em produtividade na sociedade é absolutamente óbvio. E não tem como fugir dele, tipo, uma tese.. uma dissertação de mestrado que eu queria que vocês fizessem, aqui, pra eu usar. Vamos pegar a definição do agente de mercado, eu, e vamos pegar com uma pergunta, de novo pra vocês: quantos de vocês, dentre os que usam óculos, trocariam um olho míope, como esse meu aqui que tem treze graus de miopia, por um olho biônico? Nenhuma pessoa, e se ele tivesse zoom infra-vermelho? Um bando de gente já. E se ele tivesse zoom, infra-vermelho, funcionasse como uma câmera de áudio e vídeo, fosse celular, estivesse conectado com um sistema de informação na sua conta na operadora, que tivesse inteligência artificial que desse o contexto de uma conversa que você está tendo agora e que daqui a há meses na frente tenha escaneado toda essa audiência e quando um de vocês chegasse pra mim num aeroporto, já que eu não vou reconhecer ninguém, porque eu sou míope, chegasse pra mim e dissesse: "esse é fulano ele estava la na plateia e ele não riu quando você contou aquela piada do olho", subliminarmente. Quantos de vocês trocariam um olho bom por esse olho biônico? Ah! Já apareceram uns candidatos. Se alguns colegas de sala de vocês no secundário trocasse, quantos pessoas vocês acham que trocariam? Todas. Absolutamente todas. Tem implicações éticas? Tem implicações éticas. Tem implicações morais? Tem implicações morais. Tem implicações filosóficas? Claro. Mas tecnologia por tecnologia não tem ética, nem moral, nem filosofia. A faca que faz sushi é
Minutos 60 e 61
Minutos 62 e 63
Minutos 64 e 65
Minutos 66 e 67
Minutos 68 e 69
Povos que sabem qual é a resposta, não conseguem nem refletir sobre ela, os civilizados são aqueles que não só, sabem qual é a pergunta, mais se não souberem, sabem como procurar e descobrir qual é a pergunta. Para vocês todos que estão aqui começando hoje, todos os outros que estão aqui, eu desejo é que vocês sejam uma vida inteira como esta instituição é, um vida inteira de perguntas e de desafios. Obrigado, boa noite. Obrigado. Como eu disse, antes de eu me transformar numa abobora, e pegar o avião para ir jantar com a minha mulher e meu filho em Recife, que é de onde eu sai hoje as 02h30min da manha, é a gente tem 15 minutos de debate, ouvinte. Quem se arrisca? Professor falou ai em tecnologia com a finalidade de simplificar as coisas, de liberar o ser humano para atividades mais criativas, porem se a gente olhar as sociedades primitivas que vivem da caça e coleta, esse pessoal já tem um nível para atividades criativas. Por que a gente tem que primeiro complicar as coisas, criar todo um mundo tecnológico, para depois simplificar? Eu concordo com sua pergunta...